09 fevereiro, 2009
Tutorial:
Refletor Parabólico Caseiro
PARTE 1
Refletor Parabólico Caseiro
PARTE 1
Existem diversos tipos de microfones construídos com finalidades específicas, dependendo da necessidade do usuário, como os omnidirecionais, cardióides e outros.
Um dos modelos utilizados em gravações na natureza são os chamados microfones parabólicos, que consistem na instalação de um microfone comum em uma parábola, semelhante àquelas utilizadas para captar sinais de TV via satélite. Os dois textos abaixo descrevem a aplicações do equipamento:
“Microfone Parabólico é um equipamento altamente direcional, de longo alcance, capaz de acumular em sua parábola um grande volume de som oriundo da direção onde está apontado e, então, refletir o som para o microfone acoplado ao ponto focal da parábola. Em função desta característica, o microfone parabólico direcional permite ao investigador ouvir som distantes que jamais poderiam ser escutados pelo ouvido humano, ao mesmo tempo em que minimiza fontes sonoras, não desejáveis, oriundas de outras direções. Dependendo da fonte sonora, das condições atmosféricas (que em muito influem na propagação do som) e do nível de ruído do local da operação, o investigador pode ter sucesso em operações de captura de som em uma distância de até 100 metros. Em muitas ocasiões, sobretudo à noite, o investigador sequer consegue ver o seu alvo, entretanto, usando um Microfone Direcional Parabólico, o consegue ouvir com surpreendente nitidez”. (Adaptado de http://www.centrodorio.com.br/espiaso/microfone.htm).
“Este recurso permite a gravação de um som notavelmente amplificado em relação ao som obtido sem parábola. Com o microfone parabólico é possível captar sons a 200 metros de distância, como se estivessem a somente 2 ou 3 metros. Esta característica é muito importante no caso das aves que cantam em vôo ou estão no alto das árvores ou montanhas, onde um microfone comum, por mais sensível que seja, não consegue captar tais sons com precisão”. (Adaptado de www.homempassaro.com.br/equipamentos.htm)
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Refletor Parabólico Caseiro
PARTE 2
Refletor Parabólico Caseiro
PARTE 2
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>> Como Construir: Passo a Passo

- 01 microfone simples, de preferência omnidirecional;
- 01 cabo para microfone com plug tipo P2;
- 01 aparelho para gravação (cassette, Mini-Disc, iPod, Voice Memo, MP3 ou similar);
- 01 guarda chuva de tamanho pequeno ou médio, de preferência transparente e de material plástico;
- 01 pedaço (10 a 15 cm) de cano de PVC 50 mm;
- 01 pedaço de câmera de ar de bicicleta;
- 01 ou 02 presilhas de metal (aquelas de prancheta);
- organizador de fios (espiral);
- parafusos, porcas e arruelas;
- fita adesiva tipo crepe ou similar;
- fita isolante tipo auto-fusão;
- ferramentas básicas para o serviço;
- massa epóxi (tipo Durepóxi);
- outros acessórios opcionais (braçadeira, espuma).
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Refletor Parabólico Caseiro
PARTE 3
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PARTE 3
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>> Passo 1: preparando o guarda-chuva
- Dependendo do modelo do seu guarda-chuva, você deverá remover o cabo (a parte curva onde você segura quando está aberto) e a ponteira (proteção que fica na parte de cima do guarda-chuva, na ponta da haste principal).
- As fotos abaixo mostram (A) a parte de cima da haste principal sem a ponteira e (B) a parte de baixo da haste principal sem o cabo (no caso eu protegi este local utilizando uma tampa de válvula de pneu de carro). Observe o botão de acionamento (abertura) do guarda-chuva.
- Você deverá inverter o cabo, ou seja, instalá-lo no local da haste onde ficava a ponteira. Como os encaixes são do mesmo tamanho, a tarefa fica mais fácil. Este cabo deverá ser confortável, pois no final o conjunto todo tem um certo peso. Considerando que, durante as gravações, você terá de ficar vários minutos segurando o equipamento sem se mover, é interessante ter um cabo mais confortável do que o original. No meu caso, eu esquentei o cabo no fogo e fui moldando para um formato que me agradasse mais. Com auxílio de massa epóxi e a fita isolante auto-fusão, eu tornei a manopla mais macia e adequada à minha empunhadura (figura "C" abaixo). A fita isolante pode ser substituída por produtos similares como aquelas fitas usadas em manoplas de bicicleta ou de raquetes de tênis.
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PARTE 4
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PARTE 4
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>> Passo 2: preparando o microfone
- Com o guarda-chuva preparado (após inverter e adaptar o cabo), é hora de adaptar o microfone. Existem várias opções para você fazer isto, dependendo da sua criatividade e habilidade com trabalhos manuais. Eu vou citar duas que se mostraram eficientes.
- A primeira consiste de um pedaço de cano PVC com diâmetro de 50 mm (pode ser maior ou menor, dependendo do modelo do seu microfone). Nele você vai prender 2 tiras elásticas (eu usei câmara de ar de bicicleta) de cada lado (foto "D"). Você precisará fazer umas ranhuras no cano para prender as tiras elásticas, utilize uma lima. Depois, para evitar que as tiras elásticas saiam do lugar quando você encaixar o microfone, prenda-as ao cano com fita-crepe ou similar (foto "E"). Uma alternativa é fazer as ranhuras em “V” ao invés de paralelas.
- No meio do corpo do cano de PVC, faça dois furos opostos e alinhados um com o outro (utilize uma furadeira). Um deles servirá para parafusar uma presilha de metal ao cano, o outro furo (do lado oposto a este) é para permitir a entrada da chave de fenda que apertará o parafuso da presilha.
- A segunda opção utiliza uma presilha de metal acoplada a uma braçadeira plástica através de um parafuso. A braçadeira é revestida internamente com espuma (fotos "F" e "G"). Eu usei uma braçadeira de peça de bicicleta, mas creio que há outras opções (como braçadeiras de mangueira de jardim ou botijão de gás). O microfone entra nesta braçadeira.
- Não testei, mas se tiver dificuldades em achar presilhas de metal à venda, talvez dê para usar aquelas “piranhas” de plástico que as mulheres usam nos cabelos.
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PARTE 5
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>> Passo 3: instalando a fiação no guarda-chuva
- Utilizando o espiral organizador de fios (à venda em casas de componentes eletrônicos), prenda o fio do microfone a uma das varetas de sustentação do guarda-chuva, conforme a foto "H". Na falta do organizador de fios, pode-se utilizar aqueles fechos de arame que vêm em embalagem de pão de forma ou então lacres plásticos tipo “zip-tie”. Para manter o equilíbrio do conjunto, é importante que a vareta escolhida esteja em alinhamento com o cabo por onde você vai segurar o equipamento (ou seja, quando em uso, a parte do fio presa à vareta ficará para baixo).
- A parte do fio que liga no microfone deverá ficar para dentro do guarda-chuva; a parte que conectará no gravador com o pino P2 fica para fora (foto "I"). Calcule o comprimento de cabo que sobrará para acoplar ao microfone. Deixe uma folga suficiente de fio, mas sem muita sobra, pois o fio pode balançar e bater em outras partes, atrapalhando a gravação.
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PARTE 6
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>> Passo 4: acoplando o microfone
- Se você optou pelo suporte de microfone usando o cano de PVC com a presilha, basta acoplar o conjunto à haste principal do guarda-chuva, conforme a foto "J". Para evitar que o conjunto deslize com facilidade e diminuir o risco de ruídos na gravação devido ao atrito de metal com metal, utilize um pedaço de câmera de ar de bicicleta entre a presilha de metal e a haste do guarda-chuva (foto "K").
- Para garantir maior firmeza, pode ser utilizada uma segunda presilha segurando a primeira que está acoplada ao cano e à haste do guarda-chuva (foto "L").
- Se você escolheu a presilha com braçadeira ao invés do cano de PVC, o procedimento é o mesmo (acoplar a presilha à haste do guarda-chuva com a ajuda de um pedaço de câmera de ar de bicicleta).
- Conecte o fio ao microfone.
- No caso de vento, é recomendável utilizar no microfone um quebra-vento de espuma, evitando ruídos indesejados na gravação.
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PARTE 7
Refletor Parabólico Caseiro
PARTE 7
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>> Passo 5: procurando o foco
- Agora é necessário encontrar o ponto de foco para onde o som captado pela parábola está sendo direcionado. No caso de uma parábola perfeita (e cara!) o ponto focal é muito nítido; no nosso modelo feito com guarda-chuva a precisão é menor.
- Conecte a outra extremidade do fio ao seu gravador e ligue conjunto todo (microfone, gravador). Se o seu gravador permitir monitoramento da gravação em tempo real (como nos gravadores de Mini-Disc e alguns de Cassette), isto é o ideal e facilitará muito sua vida (tanto para obter o foco como para realizar as gravações). Neste caso, conecte um fone de ouvido (de preferência um modelo com isolamento de sons externos) à saída de fone do aparelho e utilize-o.
- Ligue um rádio e tire-o de sintonia, deixando o chiado constante característico de emissora fora do ar. Regule o volume.
- Evitando a presença de qualquer obstáculo entre você e o rádio, afaste-se uns 20 a 30 metros e aponte a parábola para o alto-falante do rádio.
- Com o sistema ainda ligado, Vá deslizando o microfone para frente e para trás ao longo da haste do guarda-chuva, enquanto ouve o som pelo fone de ouvido, até perceber que o som ficou mais intenso/forte. Este é o ponto de foco se sua parábola. Conforme dito acima, não será tão preciso, pois o guarda-chuva não é uma parábola perfeita.
- Utilizando um marcador permanente, tinta ou fita adesiva, faça uma marca na haste do guarda-chuva indicando o local onde o microfone deve ser instalado da próxima vez (ponto de foco).
- Caso seu gravador não possua opção de monitoramento em tempo real, faça vários testes com o microfone em posições diferentes, gravando cada teste e comparando com as demais gravações.
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PARTE 8
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PARTE 8
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Considerações Finais
- Em termos gerais, o guarda-chuva tem a vantagem do baixo custo, facilidade de encontrar à venda e possuir várias possibilidades de se acoplar microfone, fios, cabo. Além do mais é leve e portátil (pode ser fechado e aberto facilmente para transporte). E – mais importante! – se você estiver no meio do mato e cair aquela chuva, basta virar o microfone parabólico para baixo que ele volta a ser um guarda-chuva normal! :-)
- O guarda-chuva transparente tem as seguintes vantagens: (a) é mais discreto na mata, não espantando os animais; (b) permite que você veja através dele, possibilitando apontar melhor o conjunto para a direção da fonte sonora (ave ou outras) e ao mesmo tempo observar o objeto que está sendo gravado. Os melhores resultados acontecem quando a haste principal do guarda-chuva está apontada diretamente para a fonte sonora, como se fosse a mira de uma arma.
- Às vezes pode ser difícil perceber de onde vem a fonte sonora para poder apontar o equipamento corretamente. Nestes casos, há algumas dicas: (a) Se o seu equipamento permite monitorar a gravação em tempo real através de fone de ouvido, mantenha um dos lados do fone sobre um dos ouvidos e o outro fora (ou seja, deixe um ouvido captando o som do gravador e o outro captando o som direto da fonte sonora), isto facilitará a localização da ave ou similar. (b) Uma técnica adicional é “vasculhar” a mata com a parábola ligada, primeiramente na horizontal, até perceber um aumento no som, e depois na vertical até achar a fonte sonora (ave ou similar), ou seja, fazer uma espécie de triangulação.
- O tamanho do guarda-chuva vai depender dos seus objetivos. Quanto maior o diâmetro, maior será sua capacidade de captar os sons mais graves. Porém, em lugares de mata fechada pode ser muito difícil transportá-lo e manuseá-lo sem esbarrar em galhos e folhas, atrapalhando a gravação e podendo danificar o equipamento.
- Ainda não fiz muitos testes comparativos, mas creio que o guarda-chuva de plástico liso (ao invés de nylon) reflita melhor o som.
- Para maiores dicas sobre como realizar gravações de sons naturais (em especial aves), recomendo este link do Centro de Estudos Ornitológicos (CEO).
- No caso de realizar gravações na natureza, informe-se sobre autorizações e sempre adote uma postura de respeito para com o ambiente natural, em especial com relação ao playback (atração de aves por meio de gravações). Sugerimos os seguintes links:
Código de ética do Observador de Aves
Princípios de Conduta Consciente em Ambientes Naturais
- Um bom local para você disponibilizar e compartilhar suas gravações de aves é o Xeno-Canto. Trata-se de um site colaborativo, onde as gravações estão disponíveis para download gratuito e legalizado. Seu funcionamento só é possível pelo fato dos usuários não se limitarem a baixar as gravações, portanto recomendamos que você coloque à disposição suas gravações para que outras pessoas possam utliizá-las.
- Um bom editor de áudio 100% gratuito, para pós-processamento de suas gravações, é o Audacity.
- Os exemplos apresentados aqui podem ser adequados de inúmeras maneiras, dependendo das suas necessidades, habilidades, criatividade e disponibilidade financeira. Por exemplo, ao invés de um conjunto microfone/gravador, você pode tentar acoplar um desses tocadores de MP3 baratinhos diretamente ao guarda-chuva, já que eles possuem microfone embutido. Obviamente, quanto menos você investir, mais limitado será seu equipamento em termos de recursos e qualidade das gravações.
- As explicações contidas neste tutorial são meramente informativas, não assumimos responsabilidade sobre quaisquer riscos, danos, prejuízos ou acidentes que possam advir da montagem ou utilização deste equipamento, uma vez que o mesmo é alternativo e tem caráter puramente experimental a título de curiosidade.
- O presente material pode ser divulgado ou distribuído livremente, desde que citadas as fontes. O autor ficará muito grato se for informado sobre a distribuição e uso do tutorial, além dos resultados obtidos na prática!
- Para maiores informações, entre em contato através de nosso site Photo in Natura. Grato pela atenção, bom trabalho e boas gravações!

Exemplos
Alguns exemplos da aplicação da tecnoreciclagem são o refletor parabólico usado na gravação de determinados sons naturais (a peça original custa algumas centenas de dólares no exterior, mas eu bolei uma alternativa com um guarda-chuva de cinco reais) e o “shock mount” (absorvedor de impactos para o microfone) feito a partir de uma lata de ervilha e uma velha câmera de ar de bicicleta.
Na área de fotografia, meu último projeto foi criar um dispositivo que dispara a câmera remotamente, sem fio, a algumas centenas de metros de distância. O acessório “oficial” custa cerca de US$ 800 nos Estados Unidos, mas eu o substituí por um par de velhos “walkie-talkies” que estavam encalhados em casa e custam na faixa de R$ 80 no mercado nacional.
Todas estas alternativas serão gradualmente explicados passo-a-passo em tutoriais postados aqui no TecnoReciclagem!
05 fevereiro, 2009
Como Funciona
A frase, atribuída ao filósofo grego Platão, que a teria cunhado no ano de 360 a.C., hoje é invertida pela pressão mercadológica massiva, tentando nos seduzir sempre que uma novidade tecnológica chega ao mercado ("a invenção é a mãe da necessidade"). Em outras palavras, sem perceber nos tornamos dependentes de versões renovadas dos produtos, cujas inovações nem sempre justificam a troca pelo modelo mais novo (que torna o anterior "obsoleto" e candidato a virar sucata).
Baseado nesta idéia, procuro explorar técnicas alternativas e de baixo custo (do tipo “faça você mesmo”) para fotografia de natureza e gravação de sons naturais. Mais especificamente, adoto a criatividade como ferramenta para construir dispositivos através do reaproveitamento de materiais que de outra forma seriam descartados. Além de reaproveitar, uma idéia central da tecnoreciclagem é manter a funcionalidade original do equipamento, agregando novas funções por meio da criatividade.
Saiba mais sobre o assunto no excelente documentário "The Story of Stuff" ("A História das Coisas"), cuja versão legendada em português está disponível aqui
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Inspiradores!
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A inspiração para criar conceito de TecnoReciclagem veio de várias fontes, dentre as quais destacam-se as seguintes:
> A Dissertação de Mestrado do Arquiteto Rodrigo Boufleur (FAU/USP, 2006), intitulada “A questão da gambiarra: formas alternativas de desenvolver artefatos e suas relações com o design de produtos”.
> O Tecnaturalista Guto Carvalho, outro grande criador de soluções alternativas para necessidades tecnológicas.
> O excelente documentário "The Story of Stuff" ("A História das Coisas"), cuja versão legendada em português está disponível aqui
> O famoso Professor Pardal, personagem de quadrinhos da Disney que desde a década de 1950, juntamente com seu assistente Lampadinha, encontra soluções para suas necessidades usando a inventividade.
> O mestre mundial da gambiarra, MacGyver, do seriado de TV "Profissão Perigo", exibido na década de 1980. Quem assistia vai se lembrar que o MacGyver era quase capaz, por exemplo, de consertar a turbina de um Boeing 747 usando apenas um palito de dentes e um pedaço de chiclete usado :-)
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O Conceito
Os altos preços cobrados por equipamentos e a dificuldade em se encontrar certos dispositivos no mercado são fatores limitantes para a fotografia e gravação de sons de natureza nos países em desenvolvimento, seja para uso na mídia, fins artísticos, científicos ou como hobby.
No Brasil, os impostos de importação geralmente duplicam o preço de equipamentos como câmeras, lentes, gravadores e microfones. Isto se torna uma séria restrição quando levamos em conta a renda per capita no país, que acaba refletindo no preço pago a artistas e fotógrafos profissionais pelo seu trabalho (geralmente muito abaixo dos padrões internacionais) e na qualidade das imagens e sons disponíveis para cientistas em suas pesquisas e publicações, por exemplo. Ou seja, paga-se muito por um equipamento que gera pouco retorno.
Além disto, a acelerada evolução tecnológica e as pressões do mercado em nível mundial aumentaram drasticamente a produção da chamada “sucata eletrônica”: equipamentos como computadores pessoais, telefones celulares e câmeras fotográficas que rapidamente tornam-se obsoletos e são descartados como lixo sem utilidade.
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