18 dezembro, 2010

TecnoReciclagem Sem Fio!



Nosso gato Tomas foi o primeiro
a testar - e aprovar - a armadilha fotográfica!
Fotos e Animação: © 2010 Daniel De Granville


.: PARTE 1 | INTRODUÇÃO :.

Quem já foi em alguma das Oficinas TecnoReciclagem sabe: dos cerca de 13 itens apresentados durante a programação, um que sempre faz mais sucesso é o “Disparador Remoto para Câmera Fotográfica usando Rádios HT” (carinhosamente chamado de “Dispareitor Tabajara” por alguns). Hoje vou falar sobre ele (um dia ainda sai o tutorial completo...) e também a respeito da mais nova invenção criada exatamente HOJE!



.: PARTE 2 | O DISPARADOR SEM FIO :.

Idealizado por mim em 2008, o disparador permite acionar a câmera fotográfica à distância, sem fio, possibilitando fazer fotos diferentes que dificilmente conseguiria sem o dispositivo, como o ninho de alguma ave, por exemplo.

O conceito é simples: o cabo de disparo, acessório usado em algumas câmeras para fotos feitas em um tripé com super-teleobjetivas ou com longo tempo de exposição, basicamente funciona pelo fechamento de um circuito elétrico. Ao acionar o botão disparador deste equipamento, fecha-se o contato entre dois fios e isto dispara a câmera. Exatamente o mesmo que ocorre quando você aperta o botão da sua câmera para tirar qualquer foto.

Um exemplo do tipo de foto que só é possível fazer
com um equipamento destes.

Foto: © 2004, Daniel De Granville


Daí eu pensei nos meus rádios HT que estavam encostados no armário havia meses: “quando um rádio recebe o sinal do outro e emite um som, tem que haver uma corrente elétrica neste processo, e se eu conseguir fazer com que esta corrente feche um circuito, isto deve disparar a câmera”. Dito e feito.

Como meu modelo de rádio possui saída para fones de ouvido, foi só questão de conversar com um técnico em eletrônica, que criou um acessório simples, barato e já muito conhecido, chamado “relê” (nos carros, por exemplo, eles são usados para acionar as luzes de direção do pisca-pisca). No meu caso, o relê fica conectado entre a saída de fone de ouvido de uma das unidades dos HTs e a entrada para o cabo disparador da câmera fotográfica. Quando eu aciono à distância o outro HT (como se fosse conversar com a unidade que está ligada na câmera), consigo tirar uma foto!

Rádios HT semelhantes ao utilizado para o projeto do disparador.
Foto: © Divulgação | Motorola


.: PARTE 3 | ARMADILHA FOTOGRÁFICA :.

Agora, mais de dois anos depois do invento do “dispareitor”, chega a novidade fresquinha, saindo do forno: “Armadilha Fotográfica com Sensor de Alarme Residencial”. Tudo aconteceu durante o almoço de hoje. Eu e Tietta conversávamos sobre a quantidade de bichos que devem visitar nosso jardim durante a noite. Ela disse "a gente devia instalar uma armadilha fotográfica no quintal para verificar".


Para quem não sabe, armadilhas fotográficas são um dispositivo muito usado por pesquisadores em estudos científicos de fauna. O equipamento, instalado em locais onde os animais costumam passar com frequência (como trilhas, locais para beber água ou mesmo atraídos por alimentos), fotografa automaticamente quando detecta algum movimento. Assim, pode-se determinar quais espécies estão presentes no local, identificar indivíduos e outras informações - clique e veja um exemplo.
Armadilha fotográfica da TecnoReciclagem,
mostrando a câmera, o sensor infra-vermelho
de alarme residencial e o dispositivo com relê
que aciona a traquitana toda!
Foto: © Daniel De Granville

Então comecei a minhocar: aqui em casa temos um desses alarmes residenciais velhos, do tipo que tem um sensor infra-vermelho sem fio, onde acende uma lâmpada tipo LED quando há movimento. "Pois então, se acende LED, é porque passa carga elétrica", pensei, mais ou menos igual ao que acontece quando aperta o botão de conversação do rádio HT. Fiz o teste com um multímetro e confirmei a hipótese.

Modelo de sensor infra-vermelho sem fio usado
na confecção da armadilha fotográfica caseira.
Foto: © Divulgação | Vetti Technology


Aí ficou fácil. Bastou eu soldar um fio em cada terminal do LED do sensor, conectar ao plug do “dispareitor” original, e agora temos uma armadilha fotográfica “custo zero” (já que o alarme estava desativado há tempos e quase virando sucata eletrônica). Ainda está em fase de testes com nossos gatos - como você pode ver na sequência de fotos que abre esta história -, mas os primeiros resultados são promissores.

[CLIQUE NAS FOTOS PARA AMPLIAR]
(esq.) Imagem do sensor infra-vermelho por dentro, mostrando

onde ficam o LED e o sensor de movimento; (dir.) O verso deste
mesmo circuito, mostrando onde foram soldados
os fios que conectam com o dispositivo de acionamento da câmera.
Fotos: © 2010, Daniel De Granville




.: PARTE 4 | CONCLUSÃO :.

E, para manter o conceito da TecnoReciclagem, onde preferencialmente os novos inventos mantém a sua funcionalidade original, o sensor continua podendo ser usado como parte do alarme mesmo – igualzinho os rádios HT, que continuam sendo rádios sempre que eu quiser :-)
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03 agosto, 2010

Pizzas e Fotos Subaquáticas:
tudo a ver!

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Coma a pizza e depois vá mergulhar
para fotografar e queimar as calorias!
Ilustração: © Divulgação, BJ's Restaurant


Comer pizza pode ajudar você a tirar melhores fotos subaquáticas. Num primeiro momento, a afirmação pode parecer no mínimo esdrúxula, mas no mundo da TecnoReciclagem ela faz todo o sentido! Afinal, quem já participou de alguma das Oficinas sabe, por exemplo, que comer queijo fatiado em bandeja de isopor pode ajudar a tirar melhores fotos macro. Então vamos à história de hoje.


Tudo começa aqui, na verdadeira
"Caixa de Primeiros Socorros" :-)
Foto © Daniel De Granville, 2010


CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO

Eu fotografo muito pouco debaixo d’água, e quando faço é nos rios aqui de Bonito, onde mergulho a profundidades de no máximo 3 ou 4 metros. Por isto nunca cogitei investir muito em um equipamento para este tipo de fotografia, priorizando aquilo que mais preciso no meu dia-a-dia. As caixas-estanque rígidas dedicadas, por exemplo, são extremamente caras. Além disso, assim que o fabricante muda o modelo da câmera (o que acontece cada vez com mais frequência), este acessório torna-se praticamente inutilizável.

Jacaré-coroa fotografado debaixo d'água em Bonito, MS
Foto: © Daniel De Granville, 2008


Assim, após pesquisar bastante, optei por comprar uma bolsa estanque da conceituada marca alemã Ewa-Marine, que foi trazida para mim dos EUA por um fotógrafo com quem trabalhei em 2008. Com ela já fiz algumas imagens subaquáticas aqui em Bonito, na Amazônia e em Fernando de Noronha, mas constantemente tinha dificuldades em operar alguns dos controles da câmera, o que prejudicava bastante a agilidade necessária na fotografia de natureza.

Bolsa-estanque U-AXP100 da Ewa-Marine
Foto: © Divulgação, ewa-marine GmbH



CAPÍTULO 2: O PROBLEMA

Esta bolsa-estanque da Ewa-Marine é um produto lançado ainda na época das câmeras de filme, cujos controles e botões eram diferentes das atuais digitais. Dentre eles, nas Canon que uso hoje, sempre tive problemas com um comando em especial: trata-se do disco giratório traseiro que permite acesso rápido a várias funções da câmera, além de ser usado na compensação de fotometria e outros recursos. Como a bolsa-estanque é composta de um plástico grosso, e estando com as mãos molhadas, girar o tal disco era sempre complicado para mim. Era!

Câmera Canon EOS 7D (no destaque, o tal disco problemático)
Foto: © Divulgação, Canon Inc.



CAPÍTULO 3: A SOLUÇÃO

Eu já havia tentado resolver o problema colando uma rodela de borracha recortada de uma câmera de ar velha de bicicleta (quem já fez a Oficina TecnoReciclagem vai se lembrar: este é um dos itens mais importantes na caixa de ferramentas de um verdadeiro “tecnoreciclador"!). Porém, os resultados – ainda que razoáveis – não me satisfizeram.

Mas ontem, ao preparar meu equipamento para um trabalho de fotografia subaquática que começo a semana que vem (mais informações em breve), decidi dar uma fuçada na minha “caixinha de primeiros socorros” e encontrei exatamente o que eu precisava! Por algum motivo, eu tinha guardado há anos um desses suportes de plástico que vem nas embalagens de pizza quando você pede por telefone, usados para evitar que a tampa grude no queijo da cobertura. Parece a miniatura de um desses banquinhos de três pernas. Perfeito!

Suporte plástico para tampa de pizza
Foto: © Geoff Lane, Wikimedia Commons


Bastou eu cortar as pernas do suporte na medida ideal que eu queria, dar uma lixada nas pontas restantes para arredondá-las, evitando o risco de furarem o plástico da bolsa, colar no disco da câmera com fita dupla-face e pronto. Agora eu tenho muito mais facilidade de acessar este controle da câmera quando estiver trabalhando debaixo d’água. O melhor de tudo? Além de ser do tamanho ideal, este modelo de suporte que eu tinha em casa vem com um furo no miolo, o que me permite acessar o botão SET da câmera que fica no meio do disco!

De cima pra baixo: (1) Cortando as pernas do suporte plástico no tamanho adequado; (2) Lixando as rebarbas; (3) Colando com fita dupla-face; (4) Resultado final, já dentro da bolsa-estanque. Fotos: © Daniel De Granville, 2010



CAPÍTULO 4: BÔNUS

De quebra, aproveito para postar a solução de outro problema que identifiquei com este equipamento. Uma questão bem mais simples de resolver. Como vamos ter que descer corredeiras com um bote para chegar no local das fotos, fiquei preocupado com o risco de que eventualmente o vidro frontal da caixa-estanque pudesse se quebrar em algum impacto. Como protegê-lo? Fácil! Basta achar alguma embalagem de desinfetante que ia para o lixo e que tenha a medida certa (no meu caso, um diâmetro interno na faixa de 11 centímetros), cortar o fundo na altura adequada, lavar bem para tirar os resíduos, e você acaba de fabricar um sensacional protetor de lente!

... e o desinfetante nem precisa ser das melhores marcas...
Foto: © Divulgação, Grupo Panter


Seus problemas acabaram!
Foto: © Daniel De Granville, 2010


Moral da história (e um dos lemas da TecnoReciclagem):
“Quem guarda, tem!” :-)


Agora vai ser menos difícil fazer fotos como esta...
Foto: © Daniel De Granville, 2008

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06 fevereiro, 2010

e-Lixo

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Crianças desmontam monitores velhos em busca de metais valiosos
Foto: © Andrew McConnell | www.andrewmcconnell.com


Hoje vou deixar de lado os divertidos tutoriais e ideias criativas sobre como reinventar equipamentos para fazer um alerta com jeito de protesto.

O fotógrafo Andrew McConnell fez um excelente ensaio sobre a sucata eletrônica despachada pela Europa e Estados Unidos para verdadeiros lixões em Acra, capital de Gana, onde os resíduos tóxicos destes equipamentos podem trazer sérios problemas ambientais e de saúde à população. Para burlar as leis que regulamentam tais atitudes, o conteúdo dos conteineres é declarado pelos emissores como "doações para caridade" ou "bens de segunda mão"...

Que feio, hein? Tecnoreciclagem neles!!